Tive contato com atrocidades, por ter nascido no sertão da
Bahia, e presenciar na infância certos hábitos dos adultos contra crianças. Um
deles é o desrespeito total à infância, naquela época. As brincadeiras de afogar eram uma
delas. Porque nem sempre a criança que estava sendo forçada a engolir água no
riacho tinha confiança de que sobreviveria àquilo, era uma tortura. Meter medo
em criança, contando histórias de horror ou ameaçando com o sobrenatural, era
outra... Será que é por isso que Euclides da Cunha disse que o sertanejo antes
de tudo é um forte? E faço uma analogia com o hábito de alguns, denunciado por
Luiz Gonzaga em célebre composição, de furar os olhos do Assum Preto “pra ele
assim cantar mió”... Claro que o poeta só é grande quando sofre. Todo
deficiente de um sentido é compensado com o desenvolvimento de outro. Mas o que
é ideal ao ser humano? Ficar cego para ouvir melhor? Ficar surdo para enxergar
com mais clareza? Ficar paralítico para usar melhor o cérebro? Perder um grande
amor para ser cético e, portanto, livrar-se do romantismo? Ser torturado para
endurecer o coração e não chorar por qualquer bobagem? Sofrer muito de ciúme
para se calejar a esse tipo de dor e parar de sonhar com o relacionamento
ideal, banhado de lealdade? Ser “corneado” para se acostumar com a infidelidade
geral? Falir duas, três, quatro vezes, para aprender a não confiar em bancos,
sócios e clientes? É esse o ideal de desenvolvimento do ser humano? Perder algo
pra ganhar outra coisa duvidosa? Ou será que é exatamente a estratégia do mal,
de inibir a credulidade, combater a coragem e endurecer o coração? Quando o
homem depara com um relacionamento com o Criador, tudo isso cai por terra.
Primeiro, o sertanejo forte não se entrega a Deus, pois, como Paulo diz, com
Deus, só na fraqueza que se fortalece. Segundo, quem endurece o coração tem
problemas em compreender a existência do amor incondicional e confiar em Deus.
Terceiro, quem tudo malicia e não se dispõe a perder essa desconfiança não
chega nem à página 2 da caminhada da fé. Quarto, quem aprendeu a driblar a dor
com excessivo senso de humor, não assimila a superação guiada por Cristo que
ensina a não fugir, mas aceitar tudo com resignação. Quinto, essa psicologia do
mundo, de que um vai empregando sofrimento ao outro para que todos se fortaleçam,
tipo preparação para a lei da selva, é contrária ao ideal de Deus que deseja
que vivamos sob a lei do amor que não é a do mais forte nem a do que tem mais
dinheiro. Nem vou enumerar os outros itens para defender que é melhor um Assum
Preto livre e enxergando bem do que o canto que só encanta aos impiedosos.
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