segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O amor desprende

A verdade, a liberdade, a coragem e o amor estão ligados de tal forma que, sem um, os outros não existem, e todos dependem da fé. Pegando carona na reflexão do Papa Francisco que, na Albânia, alertou contra “aqueles que, como no sistema comunista vivido em seu passado recente, têm medo da verdade e da liberdade, fazendo de tudo para banir Deus do coração do homem”. É, portanto, presumível que um regime totalitário não se estabeleça pela verdade nem pode alcançar o amor. Getúlio Vargas foi um ditador medíocre, mas brilhou em três anos e meio, quando eleito pelo povo, por quem, pode-se dizer, foi amado. O amor do povo e pelo povo o engrandeceu tanto e lhe deu tanta coragem que, diante da iminência de um novo golpe ditatorial, renunciou à própria vida, atrasando o golpe por dez anos, segundo historiadores, provocando, portanto, a própria morte para o bem da nação brasileira. O amor nos dá esse desprendimento, diferente do egoísmo que promove o apego e o medo da verdade. Quero deixar claro que não concordo com o suicídio, mas ressalto aqui a provável motivação de Getúlio. Essa história é bem diferente daquelas em que os governantes se apegam ao poder de tal forma que parecem cães com o osso, capazes de morder quem tem o potencial de lhes derrotar. Ou daqueles para quem vale tudo nas eleições e são capazes de caluniar, difamar, ou seja, na comparação feita por Jesus, o mesmo que matar os adversários, para conseguir chegar ao poder. Todas as revoluções armadas que aconteceram na história da humanidade foram seguidas de retaliações, injustiças, repressão. Quem conquista pela força tenta manter o poder pela força. Mas o medo da verdade se enxerga principalmente nos governos corruptos, para os quais a imprensa é inimiga, a oposição precisa ser "comprada", o povo precisa ser manipulado e ninguém pode ameaçar a manutenção do poder. A ganância humana pode levar o nível dos homens às profundezas do centro da Terra, ao próprio inferno, e não tem limites porque, quanto mais amor ao dinheiro, mais corrupto, mau e cego. Há uns meses, o Papa alertou que “a primeira coisa na definição de corrupto é alguém que rouba, que mata”. O caminho do egoísmo é matar o outro. Porque, para quem cultiva o ego, os outros existem para lhe satisfazer e, quando não o fazem ou ameaçam não fazer, precisam morrer, não servem mais. Veja que o egoísmo é o caminho para a corrupção, pois é assim que poucos roubam de muitos. Políticos, servidores públicos e empresários corruptos promovem injustiça em proporções devastadoras, além de darem mau exemplo e desanimar a muitos no caminho da honestidade e do amor ao próximo. Uma nação que deseja liberdade deve buscar a Deus, viver na verdade que trás consigo a justiça com amor, ou seja, sem ódio ou vingança. Apenas nessa liberdade plena, que só se alcança com a fé, sem medos portanto, é que se pode viver sob a lei do amor.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Evolução?


Tive contato com atrocidades, por ter nascido no sertão da Bahia, e presenciar na infância certos hábitos dos adultos contra crianças. Um deles é o desrespeito total à infância, naquela época. As brincadeiras de afogar eram uma delas. Porque nem sempre a criança que estava sendo forçada a engolir água no riacho tinha confiança de que sobreviveria àquilo, era uma tortura. Meter medo em criança, contando histórias de horror ou ameaçando com o sobrenatural, era outra... Será que é por isso que Euclides da Cunha disse que o sertanejo antes de tudo é um forte? E faço uma analogia com o hábito de alguns, denunciado por Luiz Gonzaga em célebre composição, de furar os olhos do Assum Preto “pra ele assim cantar mió”... Claro que o poeta só é grande quando sofre. Todo deficiente de um sentido é compensado com o desenvolvimento de outro. Mas o que é ideal ao ser humano? Ficar cego para ouvir melhor? Ficar surdo para enxergar com mais clareza? Ficar paralítico para usar melhor o cérebro? Perder um grande amor para ser cético e, portanto, livrar-se do romantismo? Ser torturado para endurecer o coração e não chorar por qualquer bobagem? Sofrer muito de ciúme para se calejar a esse tipo de dor e parar de sonhar com o relacionamento ideal, banhado de lealdade? Ser “corneado” para se acostumar com a infidelidade geral? Falir duas, três, quatro vezes, para aprender a não confiar em bancos, sócios e clientes? É esse o ideal de desenvolvimento do ser humano? Perder algo pra ganhar outra coisa duvidosa? Ou será que é exatamente a estratégia do mal, de inibir a credulidade, combater a coragem e endurecer o coração? Quando o homem depara com um relacionamento com o Criador, tudo isso cai por terra. Primeiro, o sertanejo forte não se entrega a Deus, pois, como Paulo diz, com Deus, só na fraqueza que se fortalece. Segundo, quem endurece o coração tem problemas em compreender a existência do amor incondicional e confiar em Deus. Terceiro, quem tudo malicia e não se dispõe a perder essa desconfiança não chega nem à página 2 da caminhada da fé. Quarto, quem aprendeu a driblar a dor com excessivo senso de humor, não assimila a superação guiada por Cristo que ensina a não fugir, mas aceitar tudo com resignação. Quinto, essa psicologia do mundo, de que um vai empregando sofrimento ao outro para que todos se fortaleçam, tipo preparação para a lei da selva, é contrária ao ideal de Deus que deseja que vivamos sob a lei do amor que não é a do mais forte nem a do que tem mais dinheiro. Nem vou enumerar os outros itens para defender que é melhor um Assum Preto livre e enxergando bem do que o canto que só encanta aos impiedosos.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Sinal do Reino


Uma vez me contaram uma pretensa piada, de um homem que disse ao filho, uma criança de cerca de dois anos, para pular de um balcão nos seus braços. Quando a criança pulava, ele tirava os braços para a criança cair no chão. O filho, ainda chorando, ouvia do pai, segundo o humorista: “isso é para você aprender a não confiar em ninguém”. Existe uma sub-cultura alimentada por teorias de psicologia que defende que a evolução depende das maldades que as pessoas fazem contra as outras. Então, a exemplo do pai estimulador de reservas, o patrão nervoso dá broncas na frente dos outros para que o funcionário tímido sinta vergonha e melhore. O cliente do restaurante grita com o garçom, depois se explica pra namorada: “tenho que fazer isso pra ver se esses caras ficam mais eficientes; é pro bem dele”. A mulher provoca ciúme no seu admirador para que ele se acostume com esse tipo de cena e não a cobre atitudes preventivas. O homem não telefona para a mulher, quando vai se atrasar, para que ela não se acostume com essa atitude e exija o mesmo toda vez que ele resolva se desviar do caminho de casa. Não é isso que Jesus nos ensina. Quando o Mestre nos diz para ser o sal da Terra, Ele nos anima para ser doce, manso e confiável, para que as pessoas ao nosso redor sinta o sinal do Reino de Deus. De modo que a convivência desperte a observação sobre a bondade e a confiança na vida, alimentando, diante de atitudes nobres, a esperança de algo muito melhor do que a dura realidade que o mundo nos apresenta hoje. Então, a verdadeira evolução não acontece com as dificuldades, mas com as demonstrações de amor e solidariedade. A manifestação de impiedade nos desanima, contribui para que não acreditemos na vida. A compaixão, ao contrário, nos diz que algo melhor existe e pode predominar. Servir a Deus, portanto, é ser um sinal do Reino Dele, demonstrando confiabilidade, bom caráter, aconchego. A criança que confia no pai vai confiar mais facilmente na Palavra do Pai. O funcionário que vê bondade no patrão arrepende-se de ter negligenciado em alguns momentos e tenta melhorar, movido pela consciência. O garçom perdoado pelo cliente tenta melhorar o atendimento, não por medo que gera revolta, mas por amor. O homem apaixonado por uma mulher honrada se ajoelha e agradece a Deus pela sorte. Igualmente, a mulher do marido confiável dorme bem melhor.