quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Humor?


A busca frenética da sociedade pelo prazer tem sido trágica, e nem um pouco cômica. Muitas pessoas se perdem, a exemplo dos viciados em drogas, por um atalho qualquer, em busca do êxtase artificial. Vejo com lamento alguns humoristas, por exemplo, tentando tirar da cartola novas formas de provocar gargalhadas. Evidentemente que vão achar alternativas às custas de outros. Rir da miséria alheia, coisa mais antiga... Porém, hoje é considerada “ousada” por inconseqüentes que disputam platéia. Não defendo regras do comportamento “politicamente correto” porque acho um absurdo estabelecer critérios para algo que deveria brotar naturalmente do coração. É o mínimo que um ser humano deveria fazer, lutar internamente para proteger o semelhante do seu escárnio. Mas o pior é que a indústria de entretenimento, que também carece de  escrúpulos, procura atender à demanda de “drogas” e, portanto, compra o serviço dos profissionais mais audaciosos. Porque o público quer rir a qualquer custo. Falta alegria, quero rir. O pior é que humor sem amor é tão cruel quanto as máquinas de torturas medievais. É por isso que os humoristas estão invadindo os motivos sagrados, e desrespeitando pessoas, como se não houvesse conseqüências, mas somente o prazer sádico, o dinheiro e a fama. É produto do imediatismo contemporâneo esse humor sem amor, sem o mínimo de elegância. Fosse esse tipo de humor materializado em comprimidos, os profissionais que o praticam seriam enquadrados na lei como traficantes.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Traição


Acredito que apenas uma coisa desvia o destino de um grande amor ou de uma grande amizade: a traição. Aquele que rege os amores, que semeia encantamento entre as pessoas, o nosso Criador, a tudo perdoa. Mas sinto que Ele dá por vencido um amor traído. Todas as provas são para fortalecer a decisão de nos mantermos fiéis ao sentimento, para que ele, puro, suporte todas as coisas. Uma vez, há muito tempo atrás, perguntei a Deus em oração porque eu teria perdido, de uma vez por todas, o interesse por uma moça. A resposta veio numa canção que ouvi, logo depois, em que o cacófato me soou gritante: “Se outro amor surgir um dia, a valsa perde o ar, definha” (Canção Inédita, de Chico Buarque e Edu Lobo). Eu ouvi: “se outro amor surgir um dia e você perdoar, definha”. Ao ouvir, tocou meu coração e eu fiquei muito grato pelo pronto atendimento da prece. Eu havia perdoado uma traição e o interesse que perdurava em mero "desejo de recuperar por vaidade" definhou. Porque o perdão liberta. Acho que um grande amor teria o mesmo destino, se a traição não for inocente, ou seja, depois de reconhecido o verdadeiro amor, agir contra a consciência. As pessoas se apoderam das mais poderosas desculpas: “quero ser feliz hoje”, “nasci pra ser feliz”, “quero viver a vida”, mas não sabem de quem ouve esses argumentos que semeiam pressa, ansiedade e amargo erro. Porque os prazeres que esses argumentos defendem são efêmeros, não duram muito e o vazio vem depois como o maior dos abismos. Percebo nitidamente que todo amor enfrenta provas e apenas o amor fortalecido em Deus vence tudo. Mas Deus não pactua com “desejos humanos” nem com a idéia de “eu mereço”. O tempo que pertence a Deus serve para filtrar quem é do amor ou da cachaça (e da ressaca). É muito comum as pessoas dizerem, “agora que encontrei alguém, um monte de pretendentes apareceram”. Ora, veja que não é sem propósito. Porque você precisa se firmar na decisão de se entregar ao amor (o que não é brincadeira), e mostrar a Deus (na verdade, a si próprio porque Ele tudo sabe) que é fiel ao que sente. É nessa hora que aparece quem troca, conscientemente, a promessa de um amor abençoado pelo brilho fugaz da vaidade ou da luxúria; ou quem troca a felicidade pela facilidade, pautado pela pressa, a conhecida inimiga de Deus. O amor a tudo vence, creio nisso, mas imagino: desde que não seja ferido profundamente de dentro pra fora e, assim, marcado pra sempre por uma traição.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Valores

Arnaldo Jabor é como meu pai que vivia dizendo que eu não gostava de estudar, de tal forma que eu me convenci disso por muito tempo. Mas meu pai era inocente quanto a isso. Matava um pedaço de mim, sem saber. Acho que isso também acontece com Jabor, tão perdoável quanto meu pai, que faz o mesmo com o Brasil, quando desfere um leque de críticas. Confia tanto no seu poder de observação que nem vacila ao chamar o brasileiro de bobalhão, desonesto e vagabundo. Lamento muito o posicionamento do cineasta e colunista porque considero destrutivo todo tipo de comentário que acaba com alguém ou com um povo. O povo brasileiro está perdendo há muito tempo, mas nos filmes de Rocky, o pugilista perdia o tempo todo, antes da virada no êxtase do filme. Estou falando de cinema para ele entender melhor a minha contra argumentação, embora eu saiba que nem vai ler o meu humilde artigo no invisível blog. Tem nada não... Não escrevo necessariamente para lhe convencer que reconsidere, já me conformo se levar um leitor a refletir sobre o assunto, mesmo que não concorde comigo. Mas tenho que colocar pra fora o que senti quando li as suas críticas. O espírito de cidadania de um povo é como o emocional de uma criança: ou você anima ou mata. Vejo valores no povo brasileiro que escandalizam qualquer burguês, competidor e ávido pelo poder do dinheiro e pelo status. O brasileiro é pacífico (não reage às humilhações das classes dominantes), tem credulidade (por isso é enganado), tem fé, espera em Deus (o que é confundido com vagabundagem ou preguiça). Não vou falar de honestidade porque o maior problema do Brasil é a ausência de bons exemplos projetados pela mídia. Quem nada contra a correnteza, ou seja, opta por uma vida honesta e verdadeira, é tão criticado pelo sistema, quanto o Brasil por Jabor. Mas os perseguidos, está escrito, são o povo do Senhor, nosso Deus. Então, apesar das inúmeras tentativas de humilhação, o povo brasileiro é mais que vencedor. Já sofreu demais e despertou a misericórdia de Deus.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Infiltração


Neste momento em que enfrento uma forte dor muscular por me recusar a fazer infiltração, sinto uma concorrente dor emocional por não conseguir evitar a suspeita crescente de que a morte do cinegrafista da Band fora realizada por “infiltrados” nas manifestações. O garoto que se entregou me parece um pobre dublê sob ameaças (tamanha a piedade que me desperta) ou, no mínimo, inocente no meio do incidente. Por outro lado, cresce minha esperança de que, infelizmente com a morte trágica de outro inocente, o fato pode trazer à luz uma atuação desonesta, talvez comandada pelos detentores do poder fluminense. Está fácil supor que, para justificar a violência policial, legitimando-a na repressão dos protestos, procuram indispor a imprensa e a opinião pública com os manifestantes. É muito comum entre governantes e seus assessores, quando cegos na arrogância e ávidos por manterem o poder, acharem-se muito inteligentes e capazes de manipular situações. Sequer cogitam que a fraude possa sair pela culatra, tamanha a prepotência. Suborno e ameaças (inclusive de morte) trabalham em equipe para garantir aos fatos as versões que convêm, mas a verdade, sempre cri e continuo confiando, é soberana e vem no tempo certo. É evidente que as manifestações que acontecem desde o ano passado são espontâneas, e se revelaram um bem-vindo fenômeno político. É previsível, portanto, que, em pouco tempo, movimentos voluntários como esses sejam, em parte, manipulados por forças políticas organizadas. Geralmente, por quem está no poder, com o intuito de desqualificar os atos políticos e minimizar os efeitos na opinião pública... Mas também pelas oposições que tentam capitalizar e direcionar as manifestações para que atinjam diretamente os seus adversários e desestabilizem governos. Infiltrar pessoas mal intencionadas entre os legítimos manifestantes para criar fatos desconcertantes ou abomináveis também é previsível. Achei muito curioso o insistente posicionamento do advogado dos suspeitos, de desqualificar as manifestações, dizendo ser um deles "aliciado", apontando “diretórios de partidos políticos” como possíveis contratantes, depois de ter citado um deputado de oposição. Com essas observações, convido o leitor a meditar sobre os fatos e colocar um pé atrás. A imprensa precisa ponderar e questionar mais, não aceitar as investigações apressadas. A polícia civil fluminense parece ter pressa para concluir o inquérito (promete fazê-lo até amanhã, sexta-feira, 14) e não está questionando a estranheza das facilidades.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Sem pressa


Não é apenas na política que a ansiedade induz a erros irreparáveis. Aprende-se na própria vida que a precipitação, filha da ansiedade, costuma causar danos lamentáveis. Se a paciência é considerada umas das mais altas das virtudes, e sabe-se que provém da fé, a pressa tem a marca do desespero e costuma cegar, atropelar, com insensibilidade sobre o “tempo certo para tudo”. Exalto a paciência como introdução do que digo agora: o cenário político no Brasil não está definido. Principalmente os partidos menos comprometidos com as pré-candidaturas à Presidência, articuladas até agora, precisam saber esperar. O fenômeno do ano passado, das manifestações populares nas ruas das capitais e algumas cidades do interior, precisa ser melhor compreendido: algo está mudando no Brasil. Os detentores ansiosos do poder costumam se anestesiar com afirmações apressadas: “são vândalos articulados pela oposição”. Os beneficiários da aparente impunidade, acostumados com a zona de conforto que os enfraqueceu, minimizam: “é um fogo que se apaga, não dá em nada”. Mas a verdade é que o sintoma é claro, a sociedade brasileira quer uma mudança mais profunda que as propostas até agora. O que se vê, por enquanto, são alianças que fortalecem as candidaturas em nível de classe política, mas não as liga de maneira autêntica ao povo. Aliás, vejo-as bem distante. Há um fator emocional, embrionário, sendo ignorado pelas análises. Vemos articulações por coligações partidárias, mas nenhum partido se coligando com o povo... Sugiro aos dirigentes partidários que não pensem com a mesma mentalidade de sempre, e tenham paciência de esperar o momento certo. Nestas eleições, vejo um plano divino e um propósito de levantar o País. Creio que a vitória pertence a quem pensar, falar e agir diferente, sensata, mas inusitada, idealista, e com muito respeito ao eleitor. Sonho com uma candidatura emergida das ruas, das bases, comprometida com os anseios da população sofrida e desrespeitada do Brasil.