sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Arte no governo

Devo acrescentar que a arte não é só importante no processo eleitoral. A política precisa da arte. A cidadania precisa da arte. O governo, mais ainda para exercer sua liderança em plenitude. Não é possível mover uma comunidade para determinado rumo apenas com informações, a pretexto de conscientizar. O fumante sabe que o cigarro faz mal e nem por isso deixa de fumar. O que move o ser humano é a paixão. Daí a importância dos governantes atentarem para a necessidade de obras de comunicação, que também chamo de espirituais. Porque essas obras não levantam prédios, mas edificam pessoas. Não asfaltam ruas, mas pavimentam a esperança que faz todos viverem em maior harmonia, com mais energia. Melhora o comportamento, aumenta a produtividade da população e a arrecadação por conseqüência. Dá até pra diminuir os impostos, se o governante tiver boa vontade (raridade). Dizer que um povo tem bom coração, por exemplo, lembra-o da sua essência de bondade. Se o cidadão ouvir isso todos os dias e acreditar, muitos assassinatos podem não ocorrer, muitas separações de casais evitadas, a capacidade de perdoar aumenta. Estimula o cidadão para o exercício da cidadania que nada mais é que amar o próximo, defender o bem comum. A cidade se beneficia disso e muito. Esse é o verdadeiro crescimento.

Arte

Não é segredo pra ninguém que a propaganda, desde sempre, lança mão da arte para emocionar o mercado. Do mesmo modo o faz a propaganda eleitoral. Não existe melhor veículo para transmitir a mensagem do candidato que a música de campanha, que todos chamam de jingle. Quando ela é boa, não é só em melodia, seja qual for o ritmo, mas também há de conter uma argumentação poética estrategicamente bem colocada. Quando é assim, tem pra ninguém. Porque a arte provoca paixão e é tudo do que uma candidatura precisa para obter vitória. Comunicar-se bem com o coração do eleitor. Argumentos racionais, informações e o conteúdo do discurso não se comparam com a poesia, a música, o jeito de discursar. Porque os gestos comunicam mais que as frases. O tom de voz penetra mais que o argumento porque transmite o que sente a alma. A percepção da alma é predominante na decisão do voto e isso se chama paixão. A gente nota claramente quando nenhum dos candidatos desperta paixão no eleitor: há um vazio emocional no processo, uma falta de pegada. Quando é assim, tudo pode acontecer.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Reciclados

Com todo o respeito ao setor de manufaturados, cuja produção em série é necessária tanto pela rapidez como pela redução de custos, comunicação e marketing político não podem ser feitos em linha de montagem nem com criações reaproveitadas. Em campanha eleitoral, nenhuma situação é inteiramente semelhante a outra. É próprio da política o dinamismo em que o imponderável está sempre presente. Quem quiser participar dessa nobre atividade deve ter humildade para manter a sensibilidade em alta a cada minuto porque tudo pode acontecer e a campanha precisa se adaptar a cada movimento do cenário. O risco de usar idéias prontas é a letal armadilha: pode dar certo em um momento e isso anestesiar os “criadores”, encorajando-os a continuar copiando a fórmula que deu certo em outra campanha. Com essa atitude preguiçosa, a campanha pode ter uma surpresa logo à frente. Além de um bom estudo do cenário, do candidato e dos adversários, a elaboração de estratégia e idéias criativas de uma campanha exige inspiração, essencial ingrediente que fica totalmente descartado no uso de idéias prontas.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Prioridade

É incrível como as pessoas, em tudo que fazem, tendem a se perder na ordem de valores, no foco, na ação correspondente a cada tempo. É preciso vigiar muito para não cair em armadilhas do emocional. Em campanhas eleitorais, o pior acontece. Em vez dos candidatos disputarem qual é a melhor proposta, passam a medir quem teve mais público nos comícios, quem está na frente nas pesquisas... Ou seja, simulam uma colheita antecipada, especulando sinais sobre o resultado, em vez de aproveitarem o tempo de semear para espalhar sementes. Enchem os veículos de comunicação do que não merecia nem boletim interno. Fazem isso como se o que importa é quem vai ganhar. É lamentável o nível do debate. Atem-se a fotografias (idênticas uma das outras, tanto de um candidato como de outro)... E agem como meninos de 12 anos que tiram as calças para disputarem quem tem o pênis maior.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Máscaras

Sempre defendi e continuo insistindo que é uma grande perda de tempo investir na aparência, em detrimento da espontaneidade. Quando a pessoa ingressa na política, a primeira coisa que pensa é que deve parecer algo, e fica procurando um modelo a travestir. O resultado é desastroso. Quando sucessivos atos falhos não revelam a verdade, a ausência de autenticidade tira o brilho do “ator”. Uma vez, tentaram me contestar nessa teoria com um equívoco: “Duda Mendonça investiu na aparência do Lula e ele ganhou sua primeira eleição a presidente, depois de várias tentativas frustradas”. Não é verdade. Duda Mendonça tirou a máscara de Lula, que espontaneamente sempre fora simpático e amável no contato pessoal e, quando ia para a televisão, falava grosso e briguento, como se fosse um tirano. Quanto ao terno bem cortado que ele passou a usar, foi um investimento na coerência – um traje condizente à candidatura de presidente. Elegância não é máscara, trata-se de evolução.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Flexibilidade

Um repórter de Ribeirão Preto me ligou hoje para saber o que eu achava do deputado Duarte Nogueira, candidato a prefeito de oposição, levar à cidade expoentes do PSDB, como, por exemplo, Aécio Neves. Disse a ele que é possível que o neto de Tancredo transfira algum prestígio ao candidato, mas creio que a queda do Nogueira para segundo lugar nas pesquisas esteja enraizada na estratégia inicial de campanha. É natural que alguém que inicie uma campanha em primeiro lugar, não observando a tendência estatística de queda, adote a cautela como guia principal, ou seja, jogue na retranca. Uma vez que foi surpreendido pelo adversário e se vê em desvantagem, no entanto, deve mudar radicalmente a estratégia. Tenho repetido, estratégia não pode ser engessada. Deve ser dinâmica como a própria política.

Banho de cidadania

Não basta conscientização às campanhas de educação ambiental e de incentivo ao exercício da cidadania, é preciso despertar paixão. Que se crie uma onda motivadora, capaz de mobilizar a sociedade em torno da nobre causa. Uma campanha de conscientização, com esse objetivo somente, representa uma gota no oceano de informações disponíveis, ou seja, não cheira, não movimenta, não contagia. Uma boa campanha precisa tocar os corações e preparar um tsunami social para um verdadeiro banho de cidadania.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Alma-a-alma

Sugiro essa proposta aos candidatos, que deixem de fazer o tradicional corpo-a-corpo, em que se encontram pessoalmente com os eleitores, e transformem esse momento em algo mais profundo e autêntico. Para isso, é essencial tirar as máscaras, despir-se dos interesses, do egoísmo, e passar a se interessar realmente pelos problemas do cidadão. Ouvir o coração, enxergar a alma, considerar esse momento o mais importante do processo eleitoral. Conduzir o ato de maneira a substanciar suas propostas, suas futuras ações políticas e administrativas, mediante subsídios ganhos nesse encontro. Para realizar isso, o candidato precisa reconhecer o seu o amor político e a força do seu espírito de cidadania.

sábado, 1 de setembro de 2012

Amigo sincero

Fui contratado, certa vez, para dar consultoria a uma chapa candidata à presidência da OAB de um estado do Centro-Oeste brasileiro. A campanha já estava em andamento quando cheguei à cidade e me reuni com os coordenadores e publicitários da campanha. Levei em mãos uma pesquisa realizada pela APPM, um dos melhores institutos do Brasil, e fiz um diagnóstico, apontando as dificuldades e o quanto deveríamos ousar para obter chances de vitória. Ouvi do publicitário: “nossa pesquisa está melhor que a sua”. Ora, ele se referia à diferença do candidato para o que estava em primeiro lugar na preferência dos profissionais, bem menor que na pesquisa que eu apresentava. Então, argumentei: “mesmo que esta pesquisa não tivesse sido feita por um instituto de credibilidade, eu aconselho os senhores a considerá-la porque apresenta o resultado mais pessimista. Que mal ela faria, se só propõe que trabalhemos mais”? Eles se entreolharam e eu arrematei: “Rejeitar esta pesquisa é o mesmo que virar as costas ao amigo sincero e preferir ouvir o bajulador”. Fiquei tão entusiasmado com os argumentos que sai da reunião com a certeza de que minha estratégia seria aprovada. No outro dia, recebi o telefonema com a notícia: “recusamos a sua estratégia, preferimos continuar como estamos”. Fui embora da cidade e vi de longe a chapa ser derrotada. Fiquei triste porque não pude ser útil.