segunda-feira, 25 de março de 2013

Virtudes

Certa vez, fui convidado para uma reunião em São Paulo por dois amigos. Era sobre um projeto audacioso e, antes que começasse a conversa objetiva, houve aquele momento em que amenidades assumem o papel de quebrar o gelo. O primeiro amigo perguntou ao segundo: “Você comeu* Fulana, naquele dia que levou pra casa”? O segundo, nem titubeou: “claro, meu”! Deram muita risada e falaram outras amenidades, até que começamos o assunto principal da reunião. O primeiro amigo então apresentou seu projeto, discorreu os detalhes e, depois de uma hora de exposição técnica, foi incisivo: “isso aqui é pra ganhar dinheiro, só pra ganhar dinheiro, topa”? O outro topou e finalizamos a bem-sucedida reunião. Em outro momento, tive à sós com o segundo amigo e disse a ele: “Fiquei decepcionado com você. Havia me contado que teve piedade de Fulana. Viu que ela era muito humilde e que, se fosse com você para o motel, seria por esperança de alguma oportunidade financeira. E, no entanto, na reunião você disse o contrário”. O amigo baixou a cabeça, mostrou-se arrependido, e se desculpou: “realmente, mas se eu contasse lá o que lhe contei, ele zombaria de mim”. Dois dias depois, quando estive com o primeiro amigo, o do magnífico projeto, disse a ele: “Sabe o que mais gostei no seu projeto? Do quanto vai gerar de emprego e oportunidades de negócio para o povo daquele pequeno município. E vejo na obra um espírito altruísta. Por que você enfatizou tanto que era só pra ganhar dinheiro, se eu sei que você é idealista e nem liga muito pro lucro"? O amigo se defendeu: “se eu conversar nesses termos, mostrar esse idealismo meu, não terei parceiro para o projeto”. Veja, caro leitor, que eu tive essa oportunidade divina de ver duas pessoas que admiro, mostrando-se “mesquinhos” para agradar um ao outro. E constatei que é preciso a gente se concentrar em agradar somente a Deus. Pois o juízo humano é falho e, tentando corresponder a ele, você corre o risco de semear o mal, de fortalecer a inversão de valores e de trair a si mesmo. * Peço desculpa pelo termo chulo que achei importante grafar para ser fiel ao teor da conversa.

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