O despreparo das forças policiais brasileiras reflete no
que a imprensa está chamando de “capacidade de converter movimentos pacíficos
em atos explosivos”. As academias policiais já foram denunciadas no passado
pela forma desumana com que semeiam agressividade entre os policiais, a pretexto de
prepará-los para enfrentar a violência urbana. E o que vemos nas ruas é um
abuso de autoridade amparado por péssima orientação técnica, e não exatamente o cumprimento do dever, pois que a
segurança pública não se alcança com opressão, principalmente contra os jovens
pobres, geralmente negros. Sabemos que colhemos tudo que plantamos e tem sido
plantado no procedimento policial: ódio, agressividade, medo (o que é pior),
todos esses sentimentos
potencializados pela cultura preconceituosa, injusta, reativa,
retrógrada. Sabemos que a covardia se manifesta com agressividade desmedida,
quanto mais diante de traços de inocência e vulnerabilidade. Por isso, o Estado
se mostra covarde porque são os jovens da periferia as vítimas preferenciais
dessa violência militar que dissemina ódio e motiva futuros agentes da
selvageria. Como podemos reclamar da violência urbana, se é a própria sociedade
que a produz com as injustiças? O que podemos esperar, se maltratamos crianças
e jovens pobres, cerceando direitos básicos, como educação, alimento e moradia? As provocações nas abordagens policiais agravam ainda mais a situação. Não estou aqui
criticando os policiais, os quais considero igualmente vítimas do sistema. Ganham
mal para trabalhar em péssimas condições, enfrentando perigo de morte. Os
policiais, enquanto pessoas, merecem toda a nossa solidariedade. Estou
apontando esta crítica para o sistema que tenta proteger o “capital”, cada vez
mais exibicionista, soberbo e opressor, em detrimento de dignidade e vidas humanas, em flagrante
desrespeito. O comportamento da polícia em relação aos jovens do
“rolezinho” aconteceu para nos alertar e deixar pairando no ar uma pergunta: a
gente vai mudar esta política social ou vai esperar que a crise se agrave?
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