sábado, 29 de março de 2014
O jogo
A Bíblia nos ensina que, enquanto inocentes e obedientes a Deus, Adão e
Eva viviam nus, sentindo necessidade de se cobrirem, apenas quando pecaram e,
assim, se envergonharam de Deus e se esconderam. Os povos indígenas que também
simbolizam a pureza vivem nus ou viviam até o primeiro contato com os
“civilizados”. Então está claro que não é a semi-nudez que provoca estupros ou
assédio sexual, o desrespeito cada vez mais incômodo de homens em relação à
integridade feminina. A nudez é sinal de pureza, ao meu modo de ver. As
mulheres têm todo o direito de se vestirem como quiserem, na minha opinião, sem
que sejam por isso molestadas. O que questiono, contudo, é o comportamento de
homens e mulheres. A forma como nos vestimos é mero reflexo. O que nos motiva é
o que devemos questionar? A valorização excessiva da sensualidade e da beleza
física é edificante para a sociedade ou serve apenas para acirrar a competição
sexual e, portanto, estimular o consumo? A verdade é que todos nós somos, sim,
inocentes e deveríamos viver nus, de tão ingênuos. Pois fazemos o jogo do
sistema, sem questionamentos. As mulheres rejeitam o assédio de homens nas
ruas, nos escritórios, nos ônibus, no metrô, mas fazem o jogo do sistema e
servem de objetos sexuais a serviço do consumo. As mulheres lutam pela
integridade, mas quando se trata do último sintoma. Não as vejo lutando contra
a “doença”, combatendo a opressão do sistema que lhes empurra roupas caras,
muita maquiagem, cirurgias a rodo, dietas torturantes, desperdício de energia nas
academias e cosmético, muito cosmético... E as usam para que homens comprem
carros caros, esbanjem dinheiro e consumam outros supérfluos, desesperadamente para obter a admiração dos "objetos de desejo". Ora... Aqueles que não conseguem comprar as coisas que lhes
parecem necessárias para obter (comprar, literalmente) as mulheres (infelizmente as mulheres são tratadas assim pelo sistema, apesar de muitas não se
enquadrarem nessa realidade), recorrem ao estupro. Desviados dos valores de
sua essência, estimulados pela propaganda que o convence que o grande prêmio dessa
vida é “pegar mulher”, seja ela quem for, os homens também fazem esse jogo. De quem? Quem
ganha com a fragilidade cada vez maior do ideal de construir uma família? Quem
faz do homem e da mulher gato e sapato, ou melhor, gatos e ratos? O que de fato
violenta a integridade feminina? O estuprador? Ou o anunciante de automóvel que
diz “quem compra esse carro ganha qualquer mulher”?
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