Acredito que apenas uma coisa desvia o destino de um grande
amor ou de uma grande amizade: a traição. Aquele que rege os amores, que semeia encantamento entre as
pessoas, o nosso Criador, a tudo perdoa. Mas sinto que Ele dá por vencido um
amor traído. Todas as provas são para fortalecer a decisão de nos mantermos fiéis ao sentimento,
para que ele, puro, suporte todas as coisas. Uma vez, há muito tempo atrás, perguntei a Deus em
oração porque eu teria perdido, de uma vez por todas, o interesse por uma moça.
A resposta veio numa canção que ouvi, logo depois, em que o cacófato me soou
gritante: “Se outro amor surgir um dia, a valsa perde o ar, definha” (Canção
Inédita, de Chico Buarque e Edu Lobo). Eu ouvi: “se outro amor surgir um dia e
você perdoar, definha”. Ao ouvir, tocou meu coração e eu fiquei muito grato pelo
pronto atendimento da prece. Eu havia perdoado uma traição e o interesse que perdurava em mero "desejo de recuperar por vaidade" definhou. Porque o perdão liberta. Acho que um grande amor teria o mesmo destino, se a traição não for
inocente, ou seja, depois de reconhecido o verdadeiro amor, agir contra a
consciência. As pessoas se apoderam das mais poderosas desculpas: “quero ser
feliz hoje”, “nasci pra ser feliz”, “quero viver a vida”, mas não sabem de quem
ouve esses argumentos que semeiam pressa, ansiedade e amargo erro. Porque os
prazeres que esses argumentos defendem são efêmeros, não duram muito e o vazio vem
depois como o maior dos abismos. Percebo nitidamente que todo amor enfrenta
provas e apenas o amor fortalecido em Deus vence tudo. Mas Deus não pactua com
“desejos humanos” nem com a idéia de “eu mereço”. O tempo que pertence a Deus
serve para filtrar quem é do amor ou da cachaça (e da ressaca). É muito comum as
pessoas dizerem, “agora que encontrei alguém, um monte de pretendentes
apareceram”. Ora, veja que não é sem propósito. Porque você precisa se firmar na
decisão de se entregar ao amor (o que não é brincadeira), e mostrar a Deus (na verdade, a si próprio porque Ele tudo
sabe) que é fiel ao que sente. É nessa hora que aparece quem troca,
conscientemente, a promessa de um amor abençoado pelo brilho fugaz da vaidade
ou da luxúria; ou quem troca a felicidade pela facilidade, pautado pela pressa, a conhecida inimiga de Deus. O amor a tudo vence, creio nisso, mas imagino: desde que não seja ferido profundamente de dentro pra fora e, assim, marcado pra sempre por
uma traição.
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